Feliz ano velho! O 2023 do Corinthians ainda não acabou
Opinião de Juliano Barreto
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"Rapaziada, é o primeiro jogo da temporada. Esquece tudo o que passou, hoje começa uma nova história, hoje começa uma nova identidade. Identidade tem que ser luta e dedicação. Perdeu a bola, levanta e ajuda, não fica reclamando. Tem que competir o jogo todo. Vamos começar uma nova história hoje".
A fala acima é parte do discurso de Cássio antes do jogo contra o Guarani, na estreia do Campeonato Paulista de 2024. Sobre a parte de lutar, se dedicar e competir o jogo todo não tem o que ser dito. Isso é o mínimo que a torcida exige e ao fazer isso, o time terá apoio irrestrito aconteça o que acontecer durante a temporada. Sempre foi e sempre será assim.
Agora, falar sobre o começo de uma nova história foi otimismo demais. Entendo que o goleiro falava da caminhada que esse grupo com vários atletas recém-chegados está começando. O problema é que atualmente não dá mais para separar o que acontece dentro do que rola fora das quatro linhas.
O modus operandi da quadrilha que ocupou a direção do clube era vender qualquer jogador por qualquer preço e contratar atletas de qualidade duvidosa com contratos mais duvidosos ainda, sempre com intuito de agradar aos empresários que fazem vistas grossas para calotes, porque sabem que vão ganhar muito mais ali na frente, pegando os destaques da base ou usando o clube como vitrine, escolinha ou clínica de fisioterapia para jogadores sem mercado no exterior.
Esse sucateamento que ficou escancarado em 2023, na verdade já fazia o elenco ser desequilibrado e fraco desde os tempos de… Vagner Mancini! O técnico acostumado a treinar times que brigam apenas para não cair da Série A já dizia que era difícil ser minimamente competitivo com um elenco que não tinha quantidade nem qualidade.
É bizarro notar que a lista de pedidos do Mancini não foi entregue até hoje. Afinal, tanto em 2020 quanto em 2024 o Corinthians carece de boas opções para as duas laterais, não tem um titular absoluto para a contenção no meio campo, não tem um camisa 9 matador e ainda sente falta de um atacante rápido pela direita.
De lá para cá, alguns nomes foram contratados para essas posições, mas seja por falta de grana ou por falta de competência, todas as contratações fracassaram rapidamente sem surpreender ninguém. Enquanto isso, um técnico atrás do outro era demitido para fingir que a culpa era apenas dos treinadores.
São muitos e muitos erros acumulados.
Não será rápido ou barato montar um elenco com pelo menos 23 jogadores que tenham o padrão esperado há tanto tempo pela torcida. É aquela história… todo ano sonhamos com Guilherme Arana e acordamos com Matheus Bidu. Sonhamos com Cavani e acordamos com Júnior Moraes. Pagam salário de “Rei das Américas” para o cara virar “Rei do Motel Caribe”.
Por essas e outras ninguém consegue “esquecer tudo o que passou”, como disse o Cassião.
A pressão dos anos sem título, das derrotas para timecos em casa, das apresentações apáticas fora de casa, a seca de vitórias em clássicos, a constante ausência na Libertadores… tudo isso cria um saldo negativo que vai demorar um tempo para sair do vermelho.
“Acho que estamos bem longe de um time ideal. Precisamos de jogadores. Precisamos ser honestos também, não cabe a mim contratar, mas precisamos nos reforçar.” disse o goleiro em fala bem mais realista já na segunda rodada do Paulistão.
Penso que o momento é bem mais de "Precisamos ser honestos" do que de “esquecer tudo”. Cássio não deveria pedir desculpas pelo o que falou. Mano não deveria medir palavras ao reclamar das "expectativas que foram criadas".
Augusto Melo e Rubão saíram falando que da noite para o dia “ia acabar a farra dos rivais" e o Corinthians teria “um time para ganhar tudo”. Espero que eles sejam mais honestos no que falam daqui para a frente, e tomara que aqueles que acreditaram nas bravatas, tenham se ligado que o problema não é só o centroavante que perde gol feito ou o técnico que demora para mexer.
Se a nova diretoria fez o que fez para ser eleita, eles deviam estar cientes do tamanho do problema que eles têm na mão. Cássio, Mano e a Fiel não já não aguentam ver o mesmo filme de 2020, 2021, 2022, 2023...
Este texto é de responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião do Meu Timão.
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